segunda-feira, 15 de agosto de 2011

A terceira idade está chegando




 

Por incrível que se possa parecer, sem concurso algum de merecimento, eu ganhei o título de “Senhor”. Ganhei esse título dos mais jovens. Vê se pode? Do alto dos meus 38 anos de idade, estou sendo chamado de "Senhor". Era só o que me faltava. Logo eu, que ainda trago resquícios de uma adolescência não muito longínqua.  Na última vez que me chamaram de Senhor, quase que eu argumentei: Eu não sou Senhor! A senhorita está completamente enganada. Não está vendo o meu tênis All star? Quer prova maior que essa?

Uma das coisas que eu mais gosto de fazer é ficar sentado naqueles bancos da Rua Coronel Agostinho, o popular calçadão de Campo Grande. Adoro ficar observando o movimento do tráfego de pessoas, enquanto estou descansando. E sempre quando estou nesses momentos, vêm esses representantes de lojas me incomodar com esse tratamento de "Vossa senhoria". E eles me oferecem de tudo: plano de saúde, doces,  chip da Claro, enfim, as quatro operadoras. 
Mas o  que mais me impressiona nesses vendedores é a sua falta de preparo. Eles não tem técnica nenhuma. Chamando uma pessoa de "Senhor", a conversa fica bem mais pesada. Ninguém gosta de ser chamado de velho. Por que não usam outros adjetivos? Chamar um estranho de amigo já dá uma boa quebrada no gelo. Não há diferença nenhuma entre vender uma caixa de fósforos ou um carro. A técnica é a mesma. Há de se fazer do cliente, sem conhecê-lo, já um membro da família.
Quem não gosta de ser bem tratado?

O meu primeiro emprego foi numa loja de sapatos. Para uma pessoa enrustida como eu, aquilo foi uma verdadeira escola. Foram um ano e dez meses de puro aprendizado.  Fiz ótimas amizades, tanto com clientes como com companheiros de trabalho. Confesso que não levo jeito nenhum para ser vendedor. Dei muita mancada naquele período. Chamei muitos de "Senhor" e "Senhora", sem terem tanta idade assim. A minha sentença era cruel. Acredito que muitos tinham vontade de me xingar, mas por educação, não faziam. Acho até que saíam da loja, pensando coisas terríveis, tipo: "esse aí merece um tiro no pé".

No calçadão, já fui abordado duas vezes pela mesma pessoa:  “O Senhor aceita um cartão C&A?”, me perguntou a jovem, sentando-se do meu lado. De pronto, disse não, já achando que ela tivesse dado para mim  uns 700 anos.  Até que ela era simpática, mas se tivesse me chamado de meu lindo, fatalmente eu tinha comprado a C&A inteira.
Mas dá próxima vez que essa  criatura me interpelar, não terei a mesma postura. Velho é o ...
Fazer o quê? É a vida real.