sábado, 31 de dezembro de 2011

Terceiro


     

Nessa madrugada de sábado, eu tive um sonho estranho. Eu sonhei que eu estava disputando uma corrida numa ciclovia.  Com o coração batendo acelerado, ora eu ficava na frente, ora eu ficava para trás. Foi assim durante boa parte do percurso. Para quem não está acostumado a correr, o meu desempenho foi razoável.  Mas a surpresa maior foi que, logo a minha frente, estava o Luiz Antônio, um amigo meu de trabalho. Fazia séculos que eu não via esse sujeito. É impressionante como certas imagens ficam gravadas no nosso inconsciente. Por que justamente o Luiz Antônio? De pronto, eu acelerei a passada. Não lembro o que eu disse para ele, no breve diálogo que travamos, mas posso dizer que foi um enorme prazer revê-lo, mesmo sendo em um sonho.

Tenho pensado muito em corridas nessa última semana do ano. É por isso que esse sonho me visitou. O noticiário também contribuiu para tal, pois a manchete esportiva da hora é a tradicional corrida de São Silvestre, em São Paulo. Ano passado quem venceu foi um brasileiro. Essa vitória foi considerada "zebra", porque os vencedores são sempre os quenianos. Aliás, os brasileiros, algumas vezes, chegam perto da vitória, mas acabam sendo ultrapassados, ou sabotados, como aconteceu com Vanderlei Cordeiro na maratona das Olimpíadas de Atenas, em 2004, onde um padre maluco o agarrou, quando ele liderava a prova. Esse episódio trágico fez eu lembrar daquela música do Ultraje a Rigor, “Terceiro”, que conta a história da  terceira colocação de um maratonista, fazendo uma analogia com a nossa síndrome  de país de terceiro mundo. Ou seja, até quando estamos ganhando, alguma coisa dá errado, e voltamos para a condição de país subdesenvolvido.



Fazendo uma comparação simples, a minha vida é uma correria só. Pode parecer contradição, mas estou sempre atrasado. Por conta disso, deixo sempre o meu relógio 5 minutos adiantados. Para falar a verdade, digo que a minha vida é uma correria porque estou a todo momento tendo que recuperar o tempo. Muitas vezes, coloco a culpa na falta de concentração. Ou seja, ao invés de eu dar atenção ao que é mais importante, fico olhando a hora passar. Geralmente, isso acontece quando acordo de manhã. Às vezes, até me levanto bem cedo, mas por falta de um dinamismo maior, acabo me atrasando. Gostaria até que o dia  tivesse 25 horas. Mas será que uma hora a mais resolveria alguma coisa?

O ano está bem perto do final. Hoje, estamos no último dia de 2011. Para mim, é como se fosse a reta final de uma corrida, que começou lá em janeiro, passando pelos meses de fevereiro, março...  O tempo passa veloz. Nós não nos damos conta de que corremos tanto. Todo dia, a mesma rotina: casa, trabalho, estresse. Quando chega dezembro, a sensação é a mesma de uma maratona: exaustão. Eu, por exemplo, estou no meu limite. Daqui a pouco, ano novo. Já estou vendo a linha de chegada. De fato, estou exausto, mas com uma certeza no peito: não serei o terceiro em 2012.