sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Tempo



 A borracha do tempo é implacável. Até o que é indelével cai na vala comum do esquecimento. Isso é ruim? Acredito que não. Já pensou se nós nos lembrássemos de todas as pedrinhas que ficam no caminho? Não seria nada bom. Certamente, ficaríamos loucos.   "A verdade é que nossa mente foi feita para esquecer", dizia um professor de aritmética que eu tive há muito tempo atrás. 


A observação, em questão, foi feita há 21 anos atrás.  Ou seja, um tempo bem considerável, mas que não foi suficiente para me fazer esquecer dessa conclusão tão pertinente. Na hora, eu fiquei alguns segundos refletindo e olhando para o professor. “Então, a minha mente foi feita para esquecer?”, eu dizia baixinho para mim. “É isso mesmo, professor?”, quase perguntei. Ele, um sujeito muito doido, num de seus raros momentos de lucidez, me responderia que essa é a melhor maneira de se curar as feridas da alma. Digo isso, porque a aula dele era uma palhaçada atrás da outra.

O tempo é uma ilusão do pensamento, assim como as cores. Ele não existe. Imagine se fossemos largados no espaço sideral. Lá, é uma coisa só: não tem dia nem noite. Mas, aqui, as coisas funcionam de forma diferente. Há de se fazer a divisão do tempo, pois vivemos em função dele. O engraçado é constatar que todo mundo quer que o tempo passe mais rápido, mas ninguém deseja ficar velho.

Administrar o tempo é um grande anseio das pessoas. Para tal, é preciso muita disciplina. Primeiro, o óbvio: o dia tem 24 horas.  Levando em conta que passamos, em média, 8 horas dormindo, só nos restam 16 horas. E para quem tem carro, a situação se complica um pouco mais, pois, no mínimo, essa pessoa perde 4 horas no trânsito.  O que fazer das 12 horas restantes? Difícil saber, porque esse individuo passa, praticamente, 8 horas trabalhando. Bom, restam 4 horas para desfrutar. Mas será que dá, depois de um dia desgastante? A solução é se mudar para o espaço sideral, pois lá não existe esse tipo de problema.

O meu primeiro relógio foi um citizen digital. Lembro que fiquei todo bobo com ele no pulso. Eu devia ter uns 7 anos. De segundo em segundo, eu olhava para aqueles numerozinhos. Ali , sem saber, eu comecei a marcar o tempo. O legal desse período, era a sensação de que o ano fosse mais longo. Toda vez que eu lanço um olhar para os meus verões de antigamente, eu tenho essa impressão. Mas tudo não passa de uma ilusão, e varia de pessoa para pessoa. Para uns, a semana passou rápido; para outros, levou uma eternidade. O tempo é assim. E como diria Danuza Leão, ele é um santo remédio, mas demora muito para fazer efeito. Eu que o diga, pois não estou curado para muita coisa.