A borracha do tempo é
implacável. Até o que é indelével cai na vala comum do esquecimento. Isso é
ruim? Acredito que não. Já pensou se nós nos lembrássemos de todas as pedrinhas
que ficam no caminho? Não seria nada bom. Certamente, ficaríamos loucos. "A
verdade é que nossa mente foi feita para esquecer", dizia um professor de aritmética que eu tive há muito tempo atrás.
A observação, em questão, foi feita há 21 anos atrás. Ou seja, um tempo bem considerável, mas que não foi
suficiente para me fazer esquecer dessa conclusão tão pertinente. Na hora, eu
fiquei alguns segundos refletindo e olhando para o professor. “Então, a minha
mente foi feita para esquecer?”, eu dizia baixinho para mim. “É isso mesmo,
professor?”, quase perguntei. Ele, um sujeito muito doido, num de seus raros
momentos de lucidez, me responderia que essa é a melhor maneira de se curar as
feridas da alma. Digo isso, porque a aula dele era uma palhaçada atrás da
outra.
O tempo é uma ilusão do
pensamento, assim como as cores. Ele não existe. Imagine se fossemos largados
no espaço sideral. Lá, é uma coisa só: não tem dia nem noite. Mas, aqui, as
coisas funcionam de forma diferente. Há de se fazer a divisão do tempo, pois
vivemos em função dele. O engraçado é constatar que todo mundo quer que o tempo
passe mais rápido, mas ninguém deseja ficar velho.
Administrar o tempo é um
grande anseio das pessoas. Para tal, é preciso muita disciplina. Primeiro, o
óbvio: o dia tem 24 horas. Levando em
conta que passamos, em média, 8 horas dormindo, só nos restam 16 horas. E para
quem tem carro, a situação se complica um pouco mais, pois, no mínimo, essa pessoa
perde 4 horas no trânsito. O que fazer
das 12 horas restantes? Difícil saber, porque esse individuo passa,
praticamente, 8 horas trabalhando. Bom, restam 4 horas para desfrutar. Mas será
que dá, depois de um dia desgastante? A solução é se mudar para o espaço sideral,
pois lá não existe esse tipo de problema.
O meu primeiro relógio foi
um citizen digital. Lembro que fiquei todo bobo com ele no pulso. Eu devia ter
uns 7 anos. De segundo em segundo, eu olhava para aqueles numerozinhos. Ali ,
sem saber, eu comecei a marcar o tempo. O legal desse período, era a sensação de
que o ano fosse mais longo. Toda vez que eu lanço um olhar para os meus verões de
antigamente, eu tenho essa impressão. Mas tudo não passa de uma ilusão, e varia
de pessoa para pessoa. Para uns, a semana passou rápido; para outros, levou uma
eternidade. O tempo é assim. E como diria Danuza Leão, ele é um santo remédio,
mas demora muito para fazer efeito. Eu que o diga, pois não estou curado para
muita coisa.