sexta-feira, 30 de março de 2012

Silbene



               
                        

 Já dizia o ditado: tudo o que é bom dura pouco. Para mim, extremamente fatalista. Às vezes, até perdura um pouco, dando a sensação de perenidade; outras vezes, não dá nem para sentir o cheiro, de tão veloz. Aí já vem outro ditado: ‘tava bom demais para ser verdade. E assim a vida vai ditando suas normas filosóficas, colocando no calendário, exatamente como numa ciência exata, as suas surpresas.

Na semana passada, eu tive uma notícia que não me agradou nem um pouco. Confesso que fiquei surpreso. Custei a acreditar. Inda mais porque a notícia veio através da internet, meio de comunicação que ventila zilhões de boatos, portanto, não muito confiável. Na hora, eu estava no Facebook, a febre do momento, xeretando o que as amizades virtuais estavam postando, quando me deparei com um frame, que dizia assim: “Se você está triste com o fim da  Silbene, compartilhe”.

Não poderia ser expressão melhor: luto. A sensação que eu tive foi de ficar sabendo da morte de alguém. Se existia um "lugarzinho" que eu gostava de perambular era a Silbene. Ia e voltava, diversas vezes, por aqueles corredores, aquelas escadas. Nos tempos idos, como tradição, havia o som do chorinho, tocando sem parar o dia inteiro. Depois, não sei a razão, não tocaram mais.

Essa loja vai me fazer muita falta. Nela, comprei vários livros, várias revistas, por vezes lanchei, enfim, ali eu me desopilava totalmente. Lembro que, por eu não ter dinheiro para comprar um livro com todas as letras e poesias do Cazuza, o “Preciso dizer que te amo”, eu, praticamente, ia todos dias à Silbene, só para ficar me enlevando nos versos do poeta exagerado. ("...eu nunca mais vou respirar, se você não me notar...")

Também não posso deixar de citar as funcionárias. O sujeito que selecionou aquelas moças está de parabéns, pois é uma mais bonita que a outra. Cansei de ficar flertando, de longe, o brilho e o charme de cada uma delas. De fato, um espetáculo à parte. Até o nome, assim disfarçadamente, através do crachá, eu procurava saber. Ficava injuriado quando elas colocavam o crachá virado. Eu estudei no Sarah. Nos bastidores, rolava aquela piadinha: se forma em normalista para depois trabalhar na Silbene. E de todas, eu destaco a Marli, uma moça lindíssima, que eu tive o privilégio de conhecer.

Pelos poucos comentários que eu ouvi por aí, acredito que muita gente ficou triste com o fim da Silbene. Bateu uma angústia muito grande dentro de mim quando caminhei por aqueles corredores e vi as prateleiras sendo esvaziadas. Enquanto eu caminhava, eu percebia, claramente, um sentimento de desolação no rosto dos funcionários. Tudo estava com uma atmosfera de velório.

Saí dali pelo lado da rua Augusto Vasconcelos. Essa também era uma das facetas que a Silbene nos proporcionava: podia-se cortar caminho. Duas entradas. Duas saídas. Que lástima! Até isso perderemos? Na hora, estava passando um carro de som dizendo que a Silbene não iria fechar. O meu coração encheu-se de euforia.  Imediatamente, voltei para o interior da loja e perguntei para duas funcionárias se aquilo era verdade. Elas me disseram que não sabiam de nada. De novo, um sentimento mórbido tomou conta de mim.

Por fim, eu só tenho a agradecer aos momentos de paz que tive ali, e espero que o anúncio daquele carro  não seja uma mentira.

Obs: esqueci de dizer: A silbene tinha o melhor sorvete do calçadão. Todo branquinho dentro daquele copinho.