Acordei nesse primeiro dia
de primavera com uma esperança brotando dentro de mim. Independente de ser uma
mudança de estação, que deu o ar de sua graça às 11h49min, eu queria muito
passar o sábado com o mesmo “élan” dos últimos dias de inverno. Principalmente para espantar o estresse que me pegou ao levantar da cama.
Depois de tomar o café da
manhã e dar uma lida rápida no jornal, eu abri a janela do meu quarto e vi uma
manhã chuvosa. Quando eu me deparei com esse cenário liquefeito, não pensei duas
vezes: rapidamente separei aquele jeans mais surrado do meu guarda-roupas e fui
ganhar o mundo lá de fora. Loucura? Não. O nome disso é prazer. Eu adoro andar
por aí em dias chuvosos. E se a chuva for morna, como diria Herbert Vianna, eu
fico mais feliz ainda.
Inicialmente, fui para o
centro de Campo Grande. A minha idéia era comprar uma bolsa para mim. Passei
por duas lojas, mas não vi nenhuma que se enquadrasse dentro do que eu queria. Para falar a verdade, até vi,
mas o preço não era nada convidativo. Por isso, resolvi apenas ficar andando
sem um destino definido.
Lá pelas tantas, depois de
dar uma boa caminhada pela Rua Viúva Dantas e o calçadão da Coronel Agostinho,
decidi voltar para casa. Quando eu estava prestes a embarcar no ônibus 822,
aquele estresse do início da manhã veio me incomodar de novo. O que fazer para
exorcizá-lo? A solução foi bater mais pernas por aí. Isso é um santo remédio. Saí dali,
peguei o trem e fui direto para Bangu.
Para mim, é sempre um
prazer ir a Bangu. Gosto muito de ficar vendo os aposentados jogando damas nas
mesinhas do calçadão da Av. Cônego Vasconcelos. Mas, dessa vez, apenas dei uma
passada rápida por ali. Como eu ainda estava querendo comprar uma bolsa, fui ver se a encontrava nas lojas do Shopping Bangu.
Infelizmente, eu não estava
com sorte. Passei por diversas lojas, mas não encontrei nenhuma bolsa que me
agradasse. Como já eram mais de doze horas, portanto, já dentro da primavera,
eu dei uma parada para almoçar no “Girafas”. A comida de lá não sustenta muito,
mas pelo menos é uma alternativa para dar uma tapeada no estômago.
Feito o meu pedido, eu
fiquei preocupado com o lugar que eu iria me sentar, pois as mesas da praça de
alimentação, praticamente, estavam todas ocupadas. Assim que peguei o meu
prato, eu avistei uma mesa vazia bem lá no fundo. Mais que ligeiro, eu me
encaminhei para lá, sem saber que uma surpresa muito agradável me aguardava.
Esse tipo de situação já
aconteceu comigo três ou quatro vezes. Ou seja, por acaso, andando por aí, eu
encontrei uma pessoa muito querida por mim, fato que deu totais razões aos versos do poetinha Vinícios
de Moraes:
“A vida não é brincadeira,
amigo
A vida é arte do encontro
Embora haja tanto desencontro pela vida”
Como isso é verdade! Eu tirei a prova disso quando, enquanto estava almoçando, me deparei com a... sensacional Raquel! Quem
diria que eu iria encontrá-la num local tão distante de onde nós
moramos? Que surpresa boa!
A Raquel é uma das
melhores amizades que eu tenho. Para completar a minha satisfação, ela estava com
a sua filhinha Emily, uma “graxinha” de menina. Almoçamos e depois
fomos dar um giro pelo shopping. E tome conversa!
Eu costumo dizer que a
Raquel é um exemplo de garra e determinação. Com certeza, ela desbancou várias
previsões contrárias, pois era muito louca e totalmente elétrica por todos os poros. Nós nos conhecemos há uns 18
anos. Jamais eu poderia imaginar
que ela fosse tão longe, devido a tantas dificuldades que passou pela vida. Porém, se formou em advogada, casou-se e é uma
excelente mãe.
A Raquel... Bom, vou
encerrar por aqui, porque senão eu irei escrever sobre essa moça até a próxima
estação. Queria eu ter metade de sua obstinação. No mais, eu só tenho a
agradecer, pois a Raquel Gervazoni me proporcionou uma maravilhosa tarde de primavera.