quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Plástica radical


                                

 Possivelmente, Sepetiba foi a primeira praia que eu fui. Na época, eu devia ter uns 9 ou 10 anos de idade. Um vizinho, que mora em frente a minha casa, me levava. Acredito que tenha ido umas três ou quatro vezes com ele.

Silva, como é conhecido aqui na rua, tinha o maior prazer de me levar para a praia de Maria Luiza. Ele nadava até se perder na imensidão daquele mar. Eu, enquanto catava conchas na areia, ficava só observando a destreza daquele cujo primeiro nome é Alaélis. 

Íamos de fusquinha. Tanto a ida quanto a volta eram repletas de uma sensação sem igual, pois a brisa que entrava pela janela do carro, talvez, já vaticinasse que um dia eu iria voltar àquele lugar.

E de fato, anos mais tarde, diversas vezes, eu voltei; não para tomar banho, devido à poluição, mas, apenas para apreciar e constatar que mesmo com tantos problemas de ordem ambiental, Sepetiba conseguia ser um local agradável,  fato atestado, inclusive, por amigos meus. Só para dar um exemplo: até aulas de windsurf, eu presenciei. Esses, eram momentos que eu passava um bom tempo renovando as minhas reminiscências e exorcizando os fantasmas que estavam me assombrando no início da minha juventude. Pode parecer estranho, mas os dias que eu mais gostava de rumar para aqueles lados, era quando o céu estava nublado. Achava que era uma combinação perfeita: céu de chumbo e mar contaminado por metais pesados. Para mim, fazia-se necessário um toque diferente naquela atmosfera, senão, eu não tinha a satisfação pretendida.

Para chegar a essa praia, eu pegava o ônibus S03. Era uma viagem bem tranquila, pois era só esperar o veículo chegar em seu ponto final, depois de atravessar a Estrada de Sepetiba.  Há de se frisar que, na estrada de Sepetiba, também havia o vale dos eucaliptos. Esse vale dava um tom todo bucólico ao meu passeio. Mas por conta de um conjunto habitacional, ele foi totalmente devastado, tornando-se mais um crime ambiental.

Passado pouco mais de uma década sem voltar àquele que considero um dos lugares mais tradicionais da Zona Oeste, resolvi, depois de diversas promessas, retornar à Sepetiba, motivado por uma reportagem de Jornal intitulada "Plástica Radical em Sepetiba". Confesso que depois que li a matéria, me enchi de expectativas, mas nunca que marcava um dia para checar a tal recuperação da praia.

Até que o tal dia chegou, mas precisamente 6 de agosto. Era sábado e fazia um bonito sol. Como das vezes anteriores, me encaminhei para lá na parte da tarde. Não fiz questão de ir na linha do S03, peguei logo o primeiro ônibus que me apareceu. Para mim, o que importava era o destino: Sepetiba. No percurso, fui imaginando como deveria estar a praia, haja vista que a matéria do jornal anunciava uma verdadeira revolução. 

Para o meu desencanto, não vi nada que pudesse lembrar uma plástica radical. O processo de recuperação ainda está muito lento. Deu para perceber que alguma coisa está sendo feita, mas, infelizmente, ainda não dá para vislumbrar uma praia cheia de banhistas, com areia branca e mar com águas mais limpas, como nos velhos (novíssimos) tempos. Digamos que eu fui envolvido por um marketing de notícia de jornal. O que me resta é apenas ter esperança de que todo o esforço dos governantes trará resultados. À primeira vista, não me motivei nem um pouco.

Depois de uma caminhada de, pelo menos, meia hora pela orla, desviando dessa ou daquela pedra do canteiro de obras,
saí de lá sem aquela sensação prazerosa, cheia de fantasias, daquele menino que via um sujeito se perder nas profundezas do mar da tradicional Sepetiba.



Um comentário:

  1. muito legal o texto! Realmente, era assim mesmo... Há muitos anos que não vou a Sepetiba, portanto, nem posso fazer nenhum comentário. Grande abraço! (Karina Ueoka)

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