A verdade é que eu nunca deixei de ser adolescente. Ou seja, mais
um ano de vida, nunca acrescentou nada em mim. Principalmente quando a idade é
de 40 anos. Assusta, não é? 40 anos! Eu só me assusto quando lembro que a minha
mentalidade ainda é daquele menino que ouvia música nos anos 80.
Definitivamente, eu estou no corpo errado.
Como eu não estou nem um pouco a fim de ficar dando voltas sobre
essas minhas quatro décadas de vida, hoje o texto vai ficar por conta do Leo
Jaime. Seria a tal crise que tanto falam? Está bom, eu confesso: estou sem
inspiração. Aliás, daqui para frente, a tendência é eu escrever menos nesse
espaço digital. Escrever cansa, sabiam? Isso acontece porque extrair palavras
de nosso íntimo que denunciam os nossos sentimentos mais desarvorados exige
muito de nosso ser. E como eu mesmo gostaria de ter assinado essa crônica
do Leo Jaime, por tamanha identificação minha com cada parágrafo citado nela
(principalmente o terceiro), faz de conta que ela foi escrita por mim.
Quarenta
Esta é a crônica dos meus quarenta anos. Não são quarenta dias,
diria o mestre. Citando alguém, logo no início, me eximo de qualquer
originalidade: sou a soma dos meus amores e admirações, subtraindo-se
incapacidades e imprevistos. Escrevendo, plaino sobre a realidade.
Este é o romance dos meus quarenta anos. Todas as vezes em que
disse “eu te amo”, tinha as células trêmulas de certeza. E disse muitas vezes,
mas não tantas quanto gostaria. Ou deveria. Não é fácil, nunca foi.
Esta é a tragédia dos meus quarenta anos. Sempre um elemento
deslocado na paisagem, sempre um estrangeiro, sempre gauche. Meu orgulho é não
ter sido desonesto, nem vil, nem mau. Além do gol que fiz no Maraca, do bloco
de carnaval cantando o meu samba e dos 100 mil aplaudindo em um show. Mas,
sobretudo, meu tesouro são meus amigos.
Esta é a comédia dos meus quarenta anos. Sou capaz de afirmar
verdades definitivas e substituí-las três meses depois, com a cara mais lavada.
Em geral, acho tudo o que disse três meses atrás uma sandice. Por conseguinte,
e antecipando, o que digo agora deve ser tolo também. Mas é toda a verdade, por
enquanto. É o que temos para o momento.
Este é o epílogo de minha juventude. Fazendo um balanço do que
deveria ter sido a metade ensolarada de minha vida, percebo que não cheguei
ainda aos melhores momentos, ao melhor da festa, e o dias fogem de mim como
cavalos selvagens descendo a colina. O que há para se conquistar na vida? O que
temos a oferecer? O tempo, amigo, o tempo. Este com que você me presenteia
agora, dando-me sua atenção.
Obrigado!
Obs 1: não fiz gol no Maraca, mas me orgulho de ter feito um golaço na quadra
de futebol de salão da pracinha que tem perto da minha casa.
Obs 2: Nessa primeira metade ensolarada da minha vida, só uma
coisa me entristece: o beijo de amor que eu não roubei. E olha que eu tive a
chance de fazê-lo no vão da parede do corredor que seguia para a sala de aula.
Se o delito, na calada da tarde, se concretizasse, certamente a prisão perpétua
seria pouco para mim.
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