quarta-feira, 28 de maio de 2014

O beijo da crackudinha



Chove muito na cidade do Rio de Janeiro. Hoje, definitivamente, a água resolveu correr sem barreiras. E isso para mim foi ótimo, pois ela me trouxe uma surpresa inesperada, da qual não vai para o ralo do esquecimento de forma alguma. 

Costumo dizer que a admiração não escolhe alvo. Só não vou revelar para onde ela se dirigiu nessa manhã chuvosa porque podem ficar horrorizados ou acharem que é alguma fantasia sexual. Bem, fantasia sexual não é, mas posso dizer que mexe com a minha libido de uma forma bem interessante.

Acho melhor eu não ficar fazendo suspense. Dana-se se vão ficar horrorizados. Afinal, qual o problema de se ver um certo charme onde todos sempre lançam o olhar da desconfiança e do desprezo?

Então, sem mais delongas, vamos ao que me aconteceu: como eu já tinha feito tantas vezes, mais uma vez, eu fiquei admirando a crackudinha. Ela, como tantas outras vezes, nem me notou.

Não tenho a mínima ideia de qual seja o seu nome, mas posso dizer que a danadinha da magrela é bonitinha. Sem falar que ela causa frisson, pois eu sei que não sou o único que a segue com os olhos.

Pelas as minhas contas, essa ninfetinha sem teto deve ter lá os seus 21 anos. Como eu não quero dar uma de defensor das causas sociais, prefiro não  me ater ao que a levou a esse estado de completo abandono. O que me importa, nesse momento de falta de lucidez, é dizer que ela tem a sensualidade bem à flor de sua pele.

Como eu já disse anteriormente, eu não tenho nenhuma tara selvagem por essa vítima do descaso humano. Portanto, não venham me acusar de parafílico.  Enfim, o tesão existe, mas daí a tomar uma atitude tresloucada já é um passo muito grande.

Comumente eu a vejo no restaurante popular onde almoço todos os dias, mas, de uns tempos para cá, infelizmente, ela está sumida. Fiquei pensando nisso enquanto me alimentava na minha promoção "Fome Zero" de R$ 1,00. Porém, quando eu menos esperava, para o meu deleite, ela resolveu dar o ar de sua presença. Olhei-a dos pés à cabeça. E como sempre, muito sujinha e toda lindinha.

Assim que terminei a minha refeição, me encaminhei para a porta de saída, mas antes, para não perder o hábito, dei uma última mirada na qualidade do que é  inusitado para nós, os "limpos". E para minha surpresa, ela não só percebeu como também me mandou um estalo de lábios que ecoou no recinto todo. Quase enlouqueci! "Isso é que eu chamo de presente sem embrulho" , pensei, sem ao menos dar um adeusinho.

Saí dali suspirando. E tudo porque o beijo veio de uma pessoa que já foi admirada várias vezes por mim sem sequer desconfiar disso.  

Ah, crackudinha, você não sabe como fez o meu dia feliz!






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