quinta-feira, 21 de março de 2013

Transcrições



A postagem anterior eu fiz em cima de uma transcrição de uma entrevista da Elis Regina. Não vejo isso como plágio ou falta de criatividade. Para mim, esse tipo de artifício dá todo um charme para o texto. Inclusive, já cheguei a fazer isso com o Pedro Bial, num texto chamado “Felicidade”, postado por mim em julho de 2012.
Visual de poeta

 Nas poesias que eu escrevo, volta e meia, eu também faço isso. Por exemplo: uma amiga minha, ao olhar para uma mangueira florida, sem querer, de uma forma bem poética, disse que depois das flores vinham as mangas. E eu, como sempre estou com o radar de prontidão, guardei a frase no meu HD. A poesia ficou assim:

Tempo de manga

Nunca me esquecerei que depois das flores vêm as mangas.
Tampouco  me esquecerei que logo é tempo de manga na serra.
Portanto, não cerremos nossas vidas para esse novo tempo: a nossa verdadeira temporada de mangas.
E eu já sinto um perfume de manga-rosa no ar. 
Sim, daqui a pouco é tempo de manga.
Tempo de vida e paz, que é frase e certeza de vento suave nas nossas vidas.
Sobretudo, é tempo líquido e certo de saborear o delicado sumo da vida na serra da alma da gente.
Mas só depois das flores.


Numa outra ocasião, uma amiga do tempo de escola, escreveu no seu Facebook, a seguinte frase:
Um até breve para quem fica.
Eu volto, só não sei quando...

Na hora, eu comecei a escrever sem muita pretensão, mas sem eu perceber, a poesia começou a ganhar um formato, e ficou assim:

Breve (11/04/12) 

Um até breve para quem fica.
Eu volto, só não sei quando...
De improviso, eu estou indo.
Nas malas, só o suficiente: nada.
E apesar de estar voando alto, é como se eu estivesse contornando as curvas de um rio cristalino.
 Da janela, eu estou vendo o mais puro do celeste.
“A Terra é azul!!!”, diria aquele sonhador.
Nesse momento em que a realidade está se confundindo com o sonho, eu gostaria de estar sobrevoando o meu quintal.
Quem sabe até a praça onde brinquei com os meus amigos.
Ou até mesmo as ruas que eu apreciava caminhar sem ter hora para retornar.
Aqui nos céus está passando um filme na tela da minha mente.
Com o controle-remoto estou selecionando a cena que mais me apraz.
O que não me agrada, eu corto com a navalha do esquecimento.
Toda vez que eu me transporto é assim: eu fecho os meus olhos e vejo o quanto a vida surpreende.
Quem diria que eu iria para tão longe?
Cadê o Brasil nessa imensidão lá de fora?!
Agora é real.
Não são as asas da imaginação que estão me levando.
Agora é concreto.
As asas do mais pesado que o ar estão me conduzindo para lá de onde se condensam os sonhos.
Eu vou sorrindo por dentro.
 E nas reticências, deixo um suspense até para mim, pois não sei o que pode acontecer quando a planta dos meus pés tocar o chão.
O bom é não saber.
Aliás, depois desses três pontinhos, apenas uma certeza: eu vou voltar.


Inclusive, essa foi a segunda vez que essa amiga  foi vítima desse tipo de "plágio".
Na primeira, por achar que eu não lhe dava muita atenção, ela escreveu uma queixa na última folha do meu caderno: "Deus sabe que eu existo. Isso me basta!" Confesso que naquele momento eu fiquei mudo, a ponto de nunca ter feito nenhum comentário a respeito. Aliás, eu estou mudo até hoje! Ou seja, esse gesto foi como se tivesse despencado uma pedra de mil toneladas dentro do infinito de minha alma.

Bom, o verso principal da poesia eu já tinha. Faltava apenas completá-la. Fato que só aconteceu uns 7 ou 8 anos depois do ocorrido. Explico. Para nós, que temos a palavra como matéria-prima, nunca é tarde para dar asas à imaginação. Digamos que eu guardo versos até o momento de ele ganhar maturidade. Quando isso acontece, é porque está mais do que na hora do parto. Eis a poesia: 

Ilusão de ótica

Na última folha do velho caderno, o verso insólito:
“Deus sabe que eu existo. Isso me basta!”
Saiba que eu sei muito bem da sua existência, pois tudo
 na sua atmosfera  é  convincente:
a cor, a temperatura, a anatomia.
E em você, eu vejo alguém muito ímpar ao final de algum silêncio.
Mas é claro que não pode ser uma ilusão da minha ótica!
Até nas minhas alucinações, devaneios, ou
seja lá o que for, eu sinto a sua presença pulsando.
Você não pode ser uma miragem no meio
do deserto.
Eu sinto isso no ar!!!
Você não pode ser uma utopia.
Eu sinto isso no mar!!!
Você não pode ser uma vertigem.
Eu sinto isso no chão de argila que piso.
Em outras palavras, você é tão real quanto uma estrela no clarão do Brasil profundo.










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